terça-feira, 16 de dezembro de 2008

A Construção do Ser Educador nos Dias de Hoje
Graziela ALVES*grazialves@ibest.com.br


O que pretendemos falar é da questão mais humana. Não podemos estar em um pedestal só porque somos professores, temosque nos aproximar....
Percebemos, atualmente, uma insatisfação de muitos “profissionais da educação”, reclamando sobre sua prática, dizendo está cada vez mais difícil o desenvolvimentode um bom trabalho. Segundo estes, não se tem uma base, uma estrutura a qualpossamos nos orientar. A cada dia surgem novos pensadores, pressupostos e propostas de mudanças na educação. A verdade é que essa busca por melhorescondições de ensino-aprendizagem são de extrema importância.A formação continuada de professores, novas estratégias, dinâmicas, devem ser estudadas e aperfeiçoadas. Não podemos parar no tempo achando que sabemos tudo. Se sempre fizemosassim e deu certo, porque mudar então? A mudança é necessária, pois as pessoas não são as mesmas, o mundo não é o mesmo e o mercado de trabalho está a exigir pessoas que sejamrealmente capacitadas, que estejam dispostas e estudar e a renovar sempre.Muito se tem falado sobre a questão do ser educador e o estar educador, achamos que o maior problema da educação no Brasil, é justamente esse, pois temos pessoas envolvidas na educação totalmente despreocupadas, interessadas apenas em receber o salário no final do mês.É lógico que a educação não pode ser boa e a sociedade que se forma também não, poisestamos entregando nossas crianças a pessoas não responsáveis com o sucesso de seus alunos,sua aprendizagem e formação enquanto cidadão.Não vamos também fazer demagogia. Sabemos que a situação não está fácil para ninguém eaté mesmo os compromissados, os que realmente são educadores estão passando por crises existenciais. Mas não podemos desistir nunca. Acreditamos que o primeiro passo para a mudançae para o sucesso é a força de vontade em querer mudar a cada dia a sua prática.Não podemos esquecer que ainda nos dias atuais somos modelos de referência para nossos alunos. Se não mostramos interesse e segurança no que fazemos, como podemos inculcar isso neles? Pensamos que com todo esse avanço tecnológico, tudo é referência para o aluno, menos nós.Mas é aí que nos enganamos redondamente. O professor ainda tem que ser exemplo deprofissional, de pai, de amigo, enfim, ... pois o educador não assume esse papel somente dentroda sala de aula, mas, deve ser um modelo que permanece em todos os aspectos da vida social.O problema maior ainda é que existem pessoas que além de não serem exemplos, tem umdiscurso todo diverso do que é, e ainda criticam os outros, pois a palavra ainda comove,mas o exemplo arrasa.Não pensemos nós, que os alunos não estão atentos, eles nos conhecem muito bem.Conseguem distinguir e perceber se o que pregamos é realmente o que praticamos.Então temos de ser exemplos e cumpridores da nossa fala.Temos de ter em mente também que o professor não é uma máquina que apenas decodifica informações e que as repassa como um robô. O ser humano se forma nas relações sociais,a subjetividade é algo muito importante na pessoa do educador.Não somos apenas conhecimento, somos também sentimentos.Para sermos bons educadores, o requisito mínimo exigido é que tenhamos domínio do conteúdo,mas isso é relativamente fácil, o mais difícil é sabermos lidar com as emoções, com pessoas, crianças, jovens, adultos, totalmente diferentes de nós. De nada adianta sabermos o conteúdo,mas não sabermos repassá-lo, não sermos exemplo, não conseguirmos demonstrar segurança e sabermos nos relacionar com os educandos. Sabemos que muitas vezes é difícil agir assim,mas é o ideal.O conhecimento não é algo distante, que consigamos colocar em uma caixinha e transmiti-lo unicamente, ao falar expomos opiniões próprias, modo próprio de ver as coisas, de agir,de pensar, o conhecimento antes de mais nada é íntimo, ele acaba passando pela questãohumana, individual, antes de ser transmitido e ensinado. É lógico que não estamos falandode tornar o conhecimento científico senso-comum, mas o que queremos mostrar é que o sujeitonão consegue ser totalmente imparcial no seu discurso, pois o conhecimento está ligado aoíntimo do indivíduo. Temos de nos conhecer antes de mais nada; temos de estar de bemconosco (auto-conhecimento); somente tendo mente e corpo funcionando ativamente é quepodemos ser bons profissionais.O que pretendemos falar é da questão mais humana, não podemos estar em um pedestal sóporque somos professores, temos que nos aproximar dos alunos, pois assim também podemos aprender e crescer com eles. Ser educador é também ser gente, antes de mais nada, normalcomo todos os outros. O sujeito, na relação com o objeto, constrói o conhecimento.Todo conhecimento depende de tempo e de espaço.Temos que mostrar aos discentes que eles são capazes de mudar, de construir, de transformar,de descobrir coisas novas, não podemos apenas repassar conteúdos que para eles muitas vezesnem fazem sentido. Os professores de um modo geral, até por uma “pressão” do sistema, deordens superiores, acabam ficando bitolados, restringindo-se a ensinarem apenas conteúdos,quase ou sempre, insignificantes e esquecem de mostrar ao estudante uma visão críticade mundo que é o que eles mais precisam.O papel do professor, segundo Zenita Cunha Guenther é “evitar que o talento humano sejaperdido, ou desviado e proporcionar a estimulação e a orientação necessária aodesenvolvimento sadio e apropriado”.O conhecimento e as informações, os alunos buscam em vários lugares, mas aprenderem a interpretá-las criticamente é somente na escola, no meio acadêmico que se ensina.Aí está a importância do professor, fazer com que o educando distinga o que é certo e o queé errado, o que é bom e o que é ruim e possa assim fazer suas próprias escolhas e buscar suas conquistas. De acordo com Pedro Demo “Ser educador é cuidar, fundamentalmente, paraque o aluno aprenda”.Ao laborar nos transformamos como pessoa. Ser educador é muito mais complexo do que imaginamos, mas para descobrir essa complexidade basta querer ser, buscar, não ter medodas mudanças e gostar do que faz, achamos que isso é fundamental. Ainda, segundo PedroDemo, “Educação é, sobretudo, formar a autonomia crítica e criativa do sujeito histórico competente”, esse é o papel do verdadeiro educador.








Professor e educador vivem em mundos diferentes?
Eustaquio Lagoeiro Castelo Branco



Vivem, mas, não deviam. Ser professor é apenas uma função técnica, ser educadorvai além. A escola que trabalha voltada para o conteúdo, onde cada professor pensa quesua obrigação maior é "dar o programa", precisa reestudar a sua função. Temos de nos convencer de que a base do compromisso educacional é o "objetivo' e não a "matéria". ....pois não basta a escola ser um simples difusor de conhecimentos. Ensinar a ler, a contar, a conhecer a geografia, a história, as ciências é sem dúvida tarefa meritória. Mas a vida moderna exige da escola muito mais: ela tem de levar o aluno a pensar, a contextualizar, a analisar comparativamente, a quebrar preconceitos, a buscar soluções gradativas para problemas queafetam a sua comunidade.Enfim a escola tem também a nobre função de formar cidadãos......(Renato Mesquita) epara isto é necessário transformar o pessoal docente de instrutores em educadores. Mas essaé uma proposta repetida inúmeras vezes, em cursos e palestras que eventualmente assistimos.O importante é como conseguir isso.A escola e o professor em particular têm uma responsabilidade extraordinária na formação do adolescente, no aperfeiçoamento da pessoa como ser integral. Esse aperfeiçoamento deve embasar-se numa filosofia de vida indispensável á formação do ser humano. É o homem em condições de zelar pela sua dignidade individual perante a coletividade; é o ser ajustado á família, á comunidade de vivência, ao trabalho, ás instituições, ao respeito aos demais indivíduos; é a pessoa cultivada para servir ao próximo,sem preconceitos de quaisquer naturezas, visando o aprimoramentoindividual, coletivo, universal; etc.Os parágrafos acima mostram, em resumo, quais seriam os objetivos da educação ou as finalidades legais da educação contidas nos documentos oficiais. Mas a realidade do texto legal não corresponde a realidade das nossas escolas. Uma análise, por mais superficial que seja, não pode fugir a uma constatação de imediato. O professor e as escolas de um modo geral, ainda não colocaram o aluno no centro de seus interesses, procurando de forma compatível com aquelas finalidades, atender as verdadeiras necessidades da adolescência e do ser humano.Nossas escolas oscilam entre dois campos gravitacionais (e os professores devem, ou é aconselhável, seguir essa orientação): o conteúdo e o documento. Umas vivem em função do conteúdo; é necessário "dar a matéria", "cumprir o programa", mesmo que os alunos não os acompanhem.....nestas os índices de reprovação são elevados, o que se constitui num título de glória e qualificação do estabelecimento.......Outras, talvez a maioria, vivem em função do documento. È preciso ter documentos para arquivar ou apresentar á inspeção. A realidadee o valor do que consta no documento é de segunda importância. Cumprido os dias letivos, onúmero de disciplinas de cada série, provas realizadas, certidões anotadas, pagamentos em dia...tudo foi perfeito. Para o aluno essa escola dá uma lição imediata -a questão é estar documentado e, para ele, documento é "nota de aprovação". Tudo então se resume na campanha para obtenção da nota de aprovação, isso com aplausos docente, familiar e social....Algumas escolas "inovam inteligentemente" (sic) chamando a nota de "conceito". Há até as que inventaram um processo de tirar média de conceitos!E o pior que para se chegar a essas "brilhantes" conclusões, vem aí "reuniões pedagógicas" eivadas de "nobres", "brilhantes" e "maravilhosas" opiniões e conclusões....pérolas da intelectualidade pedagógica.O que é necessário é uma mobilização ou conscientização do docente para o seu papel de educador e não de instrutor de conteúdo. É necessário que reflitam sua vivência para que possam atender as reais necessidades da sua clientela, ou seja, do adolescente. Quais seriam essas necessidades? Seriam elas hoje idênticas às de gerações passadas?Podemos apontar algumas:A aceitação social. Os adolescentes precisam encontrar maior aceitação social; tem permanente preocupação de evitar as acusações dos maiores. Até que ponto são eles os responsáveis pelos fatos em que se envolvem;O pertencer a um grupo: fazer parte de um grupo é uma necessidade imperiosa. Mas como seraceito pelo grupo? As atividades escolares precisam cuidar atentamente disso; preparar o alunopara que ele saiba escolher e participar ativa e construtivamente nos seus gruposde trabalho e lazer;A afeição: os adolescentes na instabilidade biopsicológica que os caracteriza, necessitam freqüentemente de afeição. O tratamento distante e padronizado provoca acúmulo de descontentamento e juízos deformados. Tal fato ocorre na família também, provocando as demonstrações aparentemente ridículas de adolescentes que procuram aparentar o oposto, isto é,de que são auto-suficientes e não precisam da simpatia e amizade de parentes e professores.A escola dentro daquelas finalidades não pode alhear-se ao problema;A responsabilidade. Os adolescentes gostam de assumir responsabilidades e serem considerados responsáveis. A escola que dá "matéria" e "notas" para cada classe não toma conhecimento de cada aluno. Mesmo quando exige uma responsabilidade dos alunos, ela não se apresenta na forma compatível com a necessidade dos adolescentes; é responsabilidade imposta, não aceita.Outras necessidades poderão ser facilmente levantadas por uma escola que tenha o espírito de pesquisa. Associando as finalidades da educação com o atendimento das necessidades da adolescência através do emprego de disciplinas e práticas educativas no seu exato sentido, as escolas tem elementos para realizar excelente ação educativa.Mas vamos procurar os educadores. Onde poderiam estar? Encontramos professores,muitos.....mas professor é profissão, não é algo que se define por dentro, por amor. Educador, ao contrário, não é profissão; é vocação.E toda vocação nasce de um grande amor, de uma grande esperança... ...que terá acontecido comele, o educador... resta-lhe algum espaço? Será que alguém lhe concede a palavra e lhe dá ouvidos? Merecerá sobreviver? Tem alguma função social ou econômicaa desempenhar?...pode ser que educadores sejam confundidos com professores, da mesma forma como se pode dizer: jequitibá e eucaliptos, não é tudo árvore , madeira? No final,não dá tudo no mesmo?Não, não dá tudo no mesmo, porque cada árvore é a revelação de um "habitat",cada uma delas tem cidadania num mundo específico...há árvores que tem personalidade...diferente de todas, que sentiu coisas que ninguém mais sentiu......Os educadores são como as velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma "estória" a ser contada. Habitam um mundo em o que vale é a relação que os ligam aos alunos, sendo que cada aluno é uma "entidade" "sui generis", portador de um nome, também de uma "estória", sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer neste espaço invisível e denso, que se estabelece a dois...(Rubem Alves)Mas os professores são habitantes de um mundo diferente, onde o "educador" pouco importa, pois o que interessa é um "crédito" cultural que o aluno adquire numa disciplina identificada por uma sigla, sendo que, para fins institucionais, nenhuma diferença faz aquele que a ministra. Por isso mesmo, professores são "entidades" descartáveis, da mesma forma como há canetas descartáveis, etc, etc...O educador constrói, habita um mundo em que a interioridade faz uma diferença, em que aspessoas se definem por suas visões, paixões, esperanças e horizontes utópicos. O professor ao contrário, é funcionário de um mundo dominado pelo Estado e pelas empresas. É uma entidade gerenciada, administrada segundo a sua excelência funcional, excelência essa que é semprejulgada á partir dos interesses do sistema. Freqüentemente o educador é mau funcionário, porqueo ritmo do mundo do educador não segue o ritmo do mundo da instituição. A educação ocorrecolada ao imprevisível de uma experiência de vida não gerenciada. Para ser gerenciada a vida precisa ser racionalizada. É no espaço institucional entre a razão e a paixão que surge estaentidade contraditória - o professor - que recebe um salário, CIC, RG e outros números,adquire direitos, soma qüinqüênios, escreve relatórios, assina listas de presençae quantifica os estudantes.De educadores para professores realizamos o salto de pessoa para funções.(Rubem Alves)

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